“De repente me veio um enorme cansaço.
Foi de uma hora para outra.
Lembro que estava caminhando, chegando ao trabalho; e senti como se toda a minha força, de um instante para o outro estivesse sendo sugada da cabeça aos pés. Que a gravidade estivesse agindo violentamente sobre mim, roubando por completo a minha energia.
A partir daquele momento, o que precisava realizar, tinha de ser devagar.
De arrasto.
Só lembro de ter estado assim quando ficava grávida: vontade de dormir fora de hora, pronta pra dar uma recostadinha até mesmo na cama de alguma visita que estivesse fazendo, e apagar.
Até no Pilates, se a professora me deixar mais de um minuto sem o próximo exercício, eu durmo na cama.
Um cansaço muito maior que a disposição.
Então, nesse último mês, mês e meio, tenho me arrastado. E percebendo os braços diferentes; parece câimbra, mas mais fraquinha.
Uma colega da escola contou que o marido estava sentindo muito cansaço, até que foi hospitalizado com uma inflamação nos músculos cardíacos. E eu que achava que o coração só agia de duas formas: parado ou andando.
Vinha preocupada, desconfiada de algo físico: porque aquele cansaço era físico.
Então, tomei coragem e fui ao hospital.
Na entrada, havia um recado que dizia mais ou menos “Não garantimos recepção em seguida.” em uma folha de ofício escrita a mão.
Abri a porta assim mesmo, pois aquela decisão já vinha sendo pensada há bastante tempo.
A primeira reação foi a de constrangimento porque, afinal, eu era a mais jovem (sic) da sala. Mas aí veio a lembrança do marido da colega ter a minha idade, e me reconfortei.
Fui em frente.
Ainda que com plano de saúde, a sala de espera do hospital estava tão lotada quanto à do atendimento pelo SUS, que ficava ao lado. A única vantagem naquela tarde abafada foi a de que a minha tinha ar condicionado.
Me contaram que, antes de eu chegar, uma paciente desmaiou três vezes até que sua parenta, aos berros, ordenou que alguém a atendesse. Ficou baixada; um senhor, depois de aguardar por duas horas e meia e se sentindo muito mal, pediu para que o atendessem. Foi passado ao consultório antes dos outros. Saiu caminhando bem. Disse que ia ao carro buscar o dinheiro para pagar a consulta e não mais voltou; um filho, cinqüentão, ficou vermelho de emoção ao ver o pai sair da sala do médico e ir para casa; um assessor político, mesmo tendo quatro compromissos naquela sexta, resolveu dar uma passadinha por lá antes, por estar se sentindo ultimamente muito enjoado após comer; e um homem maduro ligou para a namorada avisando onde estava e convidando-a para dormirem aquela noite na praia. Que precisava resolver alguns contratempos, e que tinham dado para ele um remédio para baixar a pressão. E assim que o clínico o liberasse, passaria para pegá-la. Eu não o vi retornar de lá de dentro; os atendentes se confundiram trocando a ordem de chegada dos pacientes e, pelo menos um foi atendido, erroneamente, na minha frente. E nem demonstraram apreensão com o ocorrido.
Depois de quatro horas, sim, eu escrevi quatro horas, pacientemente esperando (agora já sei por que os médicos nos dão esse nome), o doutor analisou o meu eletrocardiograma e disse que estava bom.
Essa notícia me deixou bem animada. Saí feliz da sala.
Antes disso, ele me orientou que precisava passar na recepção para dar baixa nos documentos.
Tudo certo! Estando bem, é isso que importa.
E então olhei o balcão. E o atendente. E as pessoas a serem atendidas.
E havia uma cadeira vazia.
E me dei conta que a boa notícia não fez desaparecer a minha fadiga.
Prostrada, sentei.
(Maria Valéria de Lima Schneider)”