"Esses dias me senti uma estrela.
A própria cantora Madonna só que sem a voz e sem o Jesus Luz, of course.
Aí você pergunta: “Uuuééé, então por quê??”
Pois é. É que uma aluna mimoseou com a maior carta que já recebi, enrolada como um antigo papiro.
Além de desenhos de corações e flores e arabescos e linhazinhas e carimbos de cachorros e gatos, havia um texto que se notava terem sido as palavras pensadas e escritas a mim.
Eram cinco ou seis linhas. Raciocinadas.
As palavras que usou não eram chavão, dessas que se escreve automaticamente ao mandar uma mensagem de última hora.
Após a introdução, veio a frase “Professora, Eu Te Amo” anotada até a última linha, da última página: dez de caderno grande, coladas uma ao pé da outra, enroladas feito rocambole.
Umas trezentas vezes.
Depois que li, me senti uma pop star.
Por isso a Madonna.
Um presente assim, compriiiiiiiiiiiiiiiiidoo, foi o primeiro que ganhei.
Quando a aluna me entregou, percebi que outras ficaram chateadas por ela ter conseguido me presentear antes.
Dava a impressão de que competiam para ver qual terminaria primeiro e não esquecesse a carta em casa no dia seguinte.
Observando a cena lembrei de uma situação que vivi.
Eu gostava de escrever cartas.
Como sou pessoa que se sente bem em presentear para ver a felicidade estampada no rosto do outro, redigi uma carta para uma de minhas amigas de escola.
A idéia era homenagear a todas. Aos poucos. Com o tempo.
Sabe como é: quando se está livre para escrever, sem prazos, você fica aguardando “a” melhor inspiração, “a” melhor ideia para que fique pessoal e bonita.
Escrever que a Paula tinha uma excelente voz e que quando crescesse seria a melhor cantora do mundo; que a Andrea tocava piano de forma superior a todas nós; que a Fernanda seria uma veterinária brilhante por se preocupar tanto com os bichos e a Priscila e a Carina... enfim.
Só que em meio e esse percurso de elaboração de algo particular, e por que não, único, ocorreu um problema: quando a primeira das minhas amigas recebeu - não lembro bem se foi a Rosana ou a Gisela, ficou tão contente com o tributo que foi correndo mostrar para todas as outras.
E todas as outras viram.
E daquele momento em diante, sem exceção:
me ignoraram.
(Maria Valéria de Lima Schneider)"