Se tiverem comentários, literalmente é só falar.







terça-feira, 11 de maio de 2010

Cheiro de Mato




"Juro que sentia o perfume da grama saindo da televisão, enquanto vivi longe da Zona Sul, há alguns anos.
Até os 26, morava numa casa e, após, como quem casa quer casa, fui para um apartamento.
Apesar de residir à meia quadra da Assis Brasil e a cem metros do estádio do meu coração - o São José, a região do IAPI era um lugar tranquilo e de paz. Porém, se você está habituado ao verde, ao perfume das flores, o som dos cachorros latindo, passarinhos entoando assobios e o contato com a terra, a falta de um pátio corroerá suas entranhas.
É claro que morar em apartamento tem suas vantagens, como a de não precisar manter o jardim bonito, fechar só uma porta, as janelas ficarem abertas e as roupas no varal.
Mas faltava alguma coisa, e minha redenção se deu em frente ao aparelho de tv.
Olhando reportagens, novelas, seriados e desenhos - uma das poucas opções que se têm em um ap(a/e)rtamento, fiquei encantada com cenas bucólicas de bois e vacas pastando no campo, o sol fraco das manhãs esbranquiçadas após uma noite de geada, cavalos e cavaleiros tendo o céu como companhia.
A sedução foi tal, que meu programa de domingo se transformou em levantar bem cedo, fazer um chimarrão, ir para o sofá e ver Campo e Lavoura: eu sentia o cheiro da relva molhada vendo as imagens.
Desta forma, compreendi que ter prédios como vizinhos, grandes, pequenos, médios, paredes brancas e cinzas, tijolos à vista, janelas marrons, verde-escuras e azul forte, pedras, concreto, todo o dia, decididamente não estava em meu DNA.
E você, já consultou o seu?
(Maria Valéria de Lima Schneider - Crônica publicada no blog do jornal Zero Hora, o ZH Zona Sul, em 18/03/2009)"