Se tiverem comentários, literalmente é só falar.







segunda-feira, 3 de maio de 2010

Você Não Está Só


O artigo a seguir foi publicado no Jornalzinho da Criança - Porto Alegre - RS - em dezembro de 2005, e defende que na maioria das vezes o ofício de escritor pode ser penoso:

"Antônio Fernando Borges coloca que: “Escrever dá trabalho. Se alguém disser o contrário, desconfie.”.
Vou explicar.
No mundo dos escritores, onde se exige perfeita organização no infinito baralho de letras, o único momento glamouroso é quando se torna conhecido e reconhecido pelo que faz. Nesta tarefa e, principalmente para quem está iniciando, o resto é puro sacrifício.
O ato de escrever é uma tarefa autocentrada e, portanto, individualista; por isso, as relações familiares muitas vezes ficam prejudicadas, havendo desgaste. Como disse Moacir Scliar, a palavra escrita é um território que partilhamos em silêncio.
Outra questão é o momento propriamente dito de escrever.
A escolha das melhores ideias, do casamento de um substantivo e um adjetivo de maneira que chame a atenção do leitor, que esta escrita seja significativa, que ela seja compreensível, que seja correta,... e como a escritora Cíntia Moscovich bem diz: “depois, é reescrever e reescrever.”
E Martha Medeiros acrescenta que conhece nenhum escritor que trabalhe sem o dicionário ao lado.
Luis Fernando Veríssimo coloca, entre outras ideias, que escrever bem é compartilhar uma realidade inédita ou um sentimento importante com o leitor, de tal maneira que o que está escrito e como está escrito se completam.
Não disse que era árduo?
Outro fator é a inspiração.
Quem pensa ser a cabeça dum autor cheia de luminosas ideias de batepronto, sinto muito em desapontá-lo: uns escrevem quando têm tempo, outros em grande sofrimento, ou quando lhes veio um pensamento diferente, passam dias sem escrever por falta de vontade (é, acreditem!), alguns gostam de planejar e outros se utilizam de técnica.
Qualquer arte possui sua técnica, como diz o escritor Luis Antônio de Assis Brasil. Ele entende a técnica literária como a soma das condições necessárias à escrita. É o senso de medida na frase, sua musicalidade, a perfeita construção do diálogo, a eficiência descritiva e narrativa e, em especial, a ideia de proporção da peça inteira, de modo que suas partes dialoguem com a necessária harmonia compositiva.
É mole?
Segundo ele, técnica é saber que não se escreve para desabafar, mas para construir uma realidade estética autônoma.
Técnica é encontrar a forma certa de fazer com que o leitor se sinta angustiado de desejo para saber o que virá mais adiante.
Difícil, não?
Quanto mais experiente o escritor, mais se dará conta de que a inspiração, o mote, uma ideia interessante a ser escrita não vem só da leitura de muitos livros. Pode vir duma notícia de jornal, da conversa no elevador, de um pássaro na árvore, dum manual de instruções e até mesmo dos desenhos na pedra de granito.
E o autor necessita de todos esses elementos, para ter o que escrever!
Logo, o escritor precisa ser também um grande observador. Ver, o que a maioria não enxerga.
Não se suicidem: pode-se treinar a mente para que isso aconteça. Exercitando, um dia se chega lá!
Outro embate crucial com que o escritor se depara para dar vida a sua obra é a impressão. Porém, há a alternativa das edições independentes que lutam bravamente contra as imensas dificuldades de distribuição e penetração na mídia especializada, como escreve Marcelo Moutinho.
Difícil também para o escritor, é a divulgação de seu livro. Como diz Taylor Diniz: ninguém escreve para a gaveta.
Por fim, pesquisando a trajetória de vida dos escritores, você verá que até mesmo os mais renomados já tiveram seus momentos de dificuldade em relação à crítica.
Todos eles. O escritor Rubem Mauro Machado coloca que as competições em forma de concursos são válidas, mas suas sentenças para o bem ou para o mal, não devem ser tomadas demasiado sério.
Portanto, não supervalorize a crítica. Nem as negue.
Use-as, para seu crescimento!
Dureza, não?
Então, escritor, você não esta só!
E você leitor, valorize o livro que tenha em mãos. Pense em tudo o que foi narrado acima e, ao encontrar seu escritor favorito, vá até ele e diga como o aprecia pelo que escreve.
Ah! Um mail também serve.
(Maria Valéria de Lima Schneider)"