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quarta-feira, 19 de maio de 2010

Crônica


"Semana passada eu descia os degraus da Igreja e avistei um andarilho esperando a saída da missa: ele não estava ali quando cheguei. Me aprumei e segui.
A praça triangular que embeleza a entrada do templo estava repleta de pessoas saindo das escolas e adultos descendo dos ônibus, indo para casa.
Percebo num dos lados da pracinha que dois meninos adolescentes corriam e um deles gritou duas vezes:
- Vou passar no super!
Atravessaram aos pulos, feito cervos brincando em campo repleto de árvores que exalam perfume, até a outra lateral, e o gritão parou bruscamente, girou noventa graus e veio em minha direção.
Ao lado dele tinha uma barraquinha de churrasco e galeto no espetinho: o dono, mais os clientes, e toda a praça vendo o garoto que berrava vir correndo direto a mim, silenciou. A praça emudeceu.
Tenho um irmão que, quando via uma professora da qual não gostasse - longe, duzentos metros adiante, atravessava a rua para não ter que cumprimentá-la.
Eu havia visto que era um ex-aluno, então, abri o meu maior sorriso de contentamento sincero e dei-lhe um abraço afetuoso - e a praça voltou a ficar barulhenta, e encostei as duas mãos nas suas bochechas gordas e lindas e disse:
- O que é que você está berrando pelas ruas? Na rua a gente fica quietinho.
Ele deu meia-volta e se dirigiu aos pulos em direção ao supermercado. Em silêncio.
Não adianta, quem nasce professora nunca perde o hábito de ensinar.

(Maria Valéria de Lima Schneider)"