"Na minha simplista concepção, anjos são aqueles que tornam o mundo - mesmo que bem pouquinho - melhor.
E então leio no site de notícias: a girafa que havia no Zoológico faleceu. Era a última. Agora o zoológico está sem girafas!
Eu me lembro de a ter visto faz uns três anos.
Ela era muito faceira. A mais alegre das que passaram pelos meus olhos.
Comia as folhas na mão da gente com a delicadeza de gueixas. Daí a pouco cansava de tantas pessoas a paparicar-lhe e saia em disparada.
As pernas desengonçadas se entrecruzavam para correr dum jeito que não conseguia entender como havia equilíbrio naquele corpanzil todo, sobre pernas longuíssimas e finas.
Depois de ler a nota, me veio à lembrança o girafo, seu namorado.
Ou seria marido?
Girafa tem namorado ou marido?
Precisa um atestado que documente, ou morar junto basta para distinguir um e outro?
Mas voltemos ao girafo. A girafa saia correndo atrás do girafo. Na verdade eu não sei quem corria atrás de quem. Elas adoravam brincar de pegar.
E lembrei que ele também havia morrido.
E faz só um mês.
E as notícias desta época relatavam que ela, a girafa, havia ficado muito triste. Visivelmente triste.
E agora ela também faleceu, vítima de um problema cardio-respiratório.
Triste.
Saio, dou algumas voltas pela internet e retorno às notícias.
E lá estava:
o bebê que há mais de mês procurava entre os vários hospitais do estado um que abrigasse as suas necessidades, depois do acolhimento, faleceu.
Dois anjos doces e de espécies diferentes, que tinham por único propósito tornar mais bela a face terrestre com seus sorrisos e graça se foram.
O dia ficou triste.
Escandalosamente triste.
(Maria Valéria de Lima Schneider)"