Se tiverem comentários, literalmente é só falar.







terça-feira, 6 de julho de 2010

Palavras que marcam


“A maturidade faz coisas maravilhosas”: essa foi a frase que pensei usar no final de uma crônica escrita há pouco. Mas não o fiz e explico por quê.

Eu e minha turma - uns trinta e cinco alunos - deveríamos falar demasiado a palavra coisa:

“Eu vi uma coisa.”

“Eu fiz uma coisa.”

“Pega a coisa pra mim.”

“Me traz aquela coisa.”

porque um dia a professora de Português entrou na sala, postou-se diante da classe, largou os livros com certa decisão sobre a mesa, nos olhou muito seriamente - não era característica sua - e disse:

- A partir de hoje ninguém mais vai dizer a palavra coisa na aula. Todos vocês estão proibidos de dizer essa palavra. Nunca mais!!

Eu, segunda mais nova da sala e o que a professora falasse era lei, fiquei muda.

Pensava em abrir a boca para pedir algo (sei lá, uma borracha ou lápis) e nada saia porque em meu pensamento mau habituado vinha:

- “Me passa aquela coisa.”, “Me dá essa coisa.”, “Me empresta a coisa.”, e percebi que realmente usava de forma exagerada a expressão.

Até hoje lembro desse momento em sala de aula quando me deparo com a palavra coisa.

Ela não esclareceu (e no alto dos meus dez anos eu precisava disso) que cada objeto no mundo tem um nome e que, se nós quiséssemos falar sobre ele, ou pedi-lo, deveríamos trocar a palavra coisa pelo nome do item.

Ou seja: ela não foi didática.

Ela não explicou. Ela determinou.

Levei um bom tempo sem falar, sem pedir, mas resultou em mim pequena sequela e eterno aprendizado.

Quando escrevi aquele final lá de cima “A maturidade faz coisas maravilhosas”, a quinta série pulou no meu cérebro, lembrei-me da professora e:

procurei algo melhor.

“A maturidade provoca fatos maravilhosos.”

A professora tinha razão.