“A maturidade faz coisas maravilhosas”: essa foi a frase que pensei usar no final de uma crônica escrita há pouco. Mas não o fiz e explico por quê.
Eu e minha turma - uns trinta e cinco alunos - deveríamos falar demasiado a palavra coisa:
“Eu vi uma coisa.”
“Eu fiz uma coisa.”
“Pega a coisa pra mim.”
“Me traz aquela coisa.”
porque um dia a professora de Português entrou na sala, postou-se diante da classe, largou os livros com certa decisão sobre a mesa, nos olhou muito seriamente - não era característica sua - e disse:
- A partir de hoje ninguém mais vai dizer a palavra coisa na aula. Todos vocês estão proibidos de dizer essa palavra. Nunca mais!!
Eu, segunda mais nova da sala e o que a professora falasse era lei, fiquei muda.
Pensava em abrir a boca para pedir algo (sei lá, uma borracha ou lápis) e nada saia porque em meu pensamento mau habituado vinha:
- “Me passa aquela coisa.”, “Me dá essa coisa.”, “Me empresta a coisa.”, e percebi que realmente usava de forma exagerada a expressão.
Até hoje lembro desse momento em sala de aula quando me deparo com a palavra coisa.
Ela não esclareceu (e no alto dos meus dez anos eu precisava disso) que cada objeto no mundo tem um nome e que, se nós quiséssemos falar sobre ele, ou pedi-lo, deveríamos trocar a palavra coisa pelo nome do item.
Ou seja: ela não foi didática.
Ela não explicou. Ela determinou.
Levei um bom tempo sem falar, sem pedir, mas resultou em mim pequena sequela e eterno aprendizado.
Quando escrevi aquele final lá de cima “A maturidade faz coisas maravilhosas”, a quinta série pulou no meu cérebro, lembrei-me da professora e:
procurei algo melhor.
“A maturidade provoca fatos maravilhosos.”
A professora tinha razão.